sexta-feira, 25 de março de 2011

O Hawaii não é aqui!

Amigos e amigas,

o Viver Para Comer chegou em sua aventura em terras havaianas. Aloha! Juro que vou tentar me concentrar apenas nos restaurantes e falar o menos possível sobre as atrações turísticas - até porque isso é um blog gastronômico e não de viagem. rs! Mesmo que eu ache muito difícil alguém ir ao Hawaii para jantar, mais especificamente à ilha de Oahu, fica de registro algumas indicações de sua culinária local...

Olha, a primeira coisa que alguma pessoa que mora no Brasil deve saber sobre o Hawaii é que ele é longe: cerca de 10 horas entre o trecho RJ-Charlotte, mais 5 horas de Charlotte até San Francisco e mais 5 horas de San Francisco até Oahu. Entre esperas de conexões e atrasos, pode adicionar mais tempo e reservar umas 25 horas, no mínimo, para concluir esta viagem. A prova de que o Hawaii é longe: da ilha de Oahu até o Japão gasta-se aproximadamente 5 horas num voo.

Depois dessa epopéia pelos ares, a coisa que você mais vai desejar é ver a ilha de Oahu aparecer na sua pequena e desconfortável janela do avião - você e todos que estiverem no vôo, pois essa aproximação da ilha é maravilhosa.

Oahu é muito grande - é uma ilha, mas em diversos momentos não dá a sensação de se estar em uma ilha! O south shore, lado sul da ilha, é uma grande cidade: tem mercado financeiro, empresas, traders, universidades, restaurantes, shoppings e muitos hotéis. Foi justo no south shore onde ficamos. Nosso hotel ficava de frente para a praia de Waikiki e para a estátua do duque Kamehameha.

O north shore, por sua vez, não tem quase nada: é uma grande fazenda de abacaxi. Aliás, há uma fazenda-empresa, a Dole, que oferece passeios e degustação de abacaxi. É quase um parquinho de diversão, só que com a temática de... abacaxi. rs... O north shore tem as praias famosas: Pipeline, Sunset, a maravilhosa Waimeia Bay entre outras... Mas em termos de hotéis, restaurantes e atrações tem pouca coisa. Ah tá... Tem o centrinho de Haleiwa, com um pequeno comércio e alguns restaurantes.

Sempre tive muita vontade de conhecer o Hawaii e achei que o Hawaii seria realmente uma espécie de paraíso em terra. Confesso que me decepcionei um pouco diante do contraste descrito acima: se o sul da ilha era extremamente "cidade", o norte era uma grande lavoura com uns truculentos e mau encarados "bad boys", circulando feito tubarões pelas praias mais famosas para o surf.


Veja você como são as coisas: anos e anos idealizando o Hawaii como o último paraíso na terra - com alguma infra, já que ele constitui um dos 50 estados norte-americanos. Chego no Hawaii e descubro que o conceito do Hawaii não é aquilo que estava diante de mim na ilha de Oahu!

Gente, não quero decepcionar ninguém, nem dizer que não vale a pena ir ao Hawaii... Não é isso... Até porque a ilha de Oahu é muito bonita. O problema é a expectativa construída e a comparação com a realidade!

Foi no meio dessa decepção com o "fato real" que me apareceu uma Malla... Bom, antes de viajar, na verdade quando comecei a planejar esta viagem, há uns 5/6 meses atrás, a Carol me disse que havia um blog de viagem de uma brasileira especializado no Hawaii... A Lucia Malla. Havia impresso um post dela que se chamava 4 dias em Oahu e lá havia um um mapa da mina: o leste da ilha! O leste da ilha possui praias lindíssimas, mas não tão largado como as do north shore. Havia uma estrutura de hotéis, restaurantes e toda infra, mas, ao mesmo tempo, não tão cheio de gente e, em particular, de japoneses - nada contra, mas devido à proximidade com o Japão, em alguns momentos parece que você está em Tokyo e não em uma ilha no meio do Pacífico! Muitas lojas, pequenos shoppings e nada de lojas de alto luxo (como há em Waikiki)!

Kailua, Lanikai, Waimanalo, Cockroach beach, Makapu etc...Enfim, Hawaii. Mais em direção ao South Shore há Sand Beach - famosa pelos campeonatos de surf. Colada ao South Shore está a linda Diamond Head.


Além de tudo, o lado leste é bem mais perto da cidade, ou seja, do south shore do que o north shore. Cerca de 35 minutos você vai do south até o east. Enquanto que para ir para o north shore você gasta cerca de 1h 30 min. Ou seja, para quem está no north não dá para ir jantar e voltar no south todo dia.

E a comida? Isso é talvez o diferencial do lado sul da ilha. Os melhores restaurantes, incluindo os mais turísticos, estão lá.

O Hawaii é caro. Os restaurantes, hotéis etc. têm um preço mais caro do que se comparado com os USA. Até porque são ilhotas no meio do Pacífico muito longe da costa americana. Mas a comida lá é demais: os ingredientes são fartos - pois a terra vulcânica de lá possui diversos nutrientes para os mais diversos cultivos -, os peixes são fantásticos e a carne, que imagino que venha do mainland (USA), possui cortes de excelente qualidade. Tentarei contar em meu próximo post as minhas aventuras na cozinha do Hawaii. rs


Bom, a comida típica do Hawaii é peixe, frango huli huli, leitão na brasa... Olha, das coisas que eu tive a oportunidade de ver, não se distingue muito da nossa comida não. Há muitos japoneses, chineses, filipinos, tailandeses e vietnamitas morando hoje lá, o que possibilita uma grande diversidade gastronômica pelas ruas de Honolulu. Fomos em um restaurante japonês ótimo, de frente para a estátua do Kamehameha, em Waikiki, chamado Furusato.

Ah, não posso começar a falar dos restaurantes sem antes falar sobre uma cadeia de sanduíches chamada Cheeseburger Restaurants. E falar mal, hein, gente? Embora a localidade seja bem convidativa, de frente para praia, e seja bem decorado, com garçons super figuras, confesso que não gostei muito... Banheiros imundos, mesas bagunçadas e a comida veio a desejar. O lema da casa é que cheeseburgers são mais interessantes do que hamburguers. Okay, concordo. Mas é necessário fazer um bom hamburguer antes de mais nada, não é? Se optar por sanduíches, recomendo evitar tal rede que, além de Oahu, também está presente em outras ilhas do Hawaii e, inclusive, em Las Vegas.


Em relação aos restaurantes, tivemos a oportunidade de ir a uns bons restaurantes. Vou comentar apenas sobre alguns e descreverei suscintamente alguns pratos:


1) Beachhouse at The Moana

Restaurante situado dentro do hotel Moana Surfrider, de fachada branca e imponente. Possui uma locação privilegiada - de frente para a praia de Waikiki. O pôr-do-sol lá é garantido. Fomos em nosso primeiro dia para jantar e apreciarmos o pôr-do-sol. Ficamos na varanda do restaurante, sentindo um ventinho que vinha do mar. Só isso já tinha valido a ida ao restaurante: pôr-do-sol, uma mesa na varanda, bebendo um pina colada e sentindo no rosto a leve brisa do mar.
A comida estava excelente: pedi um New York Strip (contra filet), com creme de espinafre e um purê de batata com parmesão (ver foto). Tudo estava delicioso.

O ponto fraco foi um camundongo que apareceu sem ter sido convidado, no meio da varanda... O maître veio nos explicar que o restaurante é aberto e, assim, impossível de controlar alguns penetras. Nos recolocou em uma mesa mais afastada da varanda, no entanto, a magia já havia sido quebrada... Mesmo com a comida sendo fantástica... Bom, um aviso para todos: há uma infestação de ratos na ilha. Escutei até que estão trazendo, de forma ilegal, cobras para ilha, pois não há predador para os roedores!


2) Alan Wong
Soube desse restaurante após assistir um episódio do "Food Porn", um adendo do No Reservations de Anthony Bourdain. Lembro que tava vendo o programa e vi um Chef havaiano apresentando o seu prato... No mesmo momento em que vi, o objetivo principal do programa começou a fazer efeito: comecei a salivar e a desejar conhecer o tal restaurante.

Confesso que foi bem difícil encontrar o restaurante, pois ficava em um 2 ou 3 andar de um prédio no downtown do Hawaii - local, devo admitir, não muito bonito! Mas o restaurante era bem agradável, com uma galera bonita e um clima bem animado. Bom, encontrar isso no Hawaii não é difícil, mas o diferencial deste restaurante era que não era majoritariamente frequentado por japoneses, nem por idosos - bem comum por todo southshore de Oahu.

Nesse restaurante comemos uma entrada que consistia em um pequeno bolinho de Crab, Shrimp and Lobster (carangueijo, camarão e lagosta). Com algumas gotas de shoyu, os bolinhos ficavam divinos.
Como prato principal, aceitei a sugestão do garçom: filet de pargo com molho de gengibre, green onion, milho e temperos (ver foto). Veio acompanhado um purê de batata gratinado... Muito bom!

3) La Mer
Esse talvez tenha sido o restaurante mais chique que tenhamos ido em toda a viagem. Ele ficava dentro de um hotel também super chique. Tinha uma vista linda, mas chegamos tarde demais para assistirmos o pôr-do-sol... Um casal de amigos me indicou o La Mer dizendo que a comida era boa, que valia a experiência, mas que era caro. Desisti de ir... Bom, depois de um tempo, eles voltaram atrás e falaram que valia muito a pena...
Cheio de dúvidas, resolvemos ir. O restaurante era muito bom. Sim, era realmente caro, mas com ressalvas... A dosagem do caro e do barato, do custo benefício, lógico que é absoluto, comparativo e, por último, subjetivo. Mas a minha estratégia para este ou para qualquer outro restaurante mais caro em que o meu desejo me impulsione a ir, mesmo que tenha que comprometer o resto do funding da viagem, é ouvir as recomendações do chef, perguntar sobre as opções que mais me apetecem e maneirar dentro do range de preços dos pratos oferecidos... Com estas premissas, achei o La Mer excelente e de ótimo custo benefício... E o menu confiance (set menu) é normalmente o que há de mais caro no cardápio do restaurante. Como o nome dele diz: tem que ter muita confiança no chef/restaurante para aceitar pagar o que se cobra pelo menu - esta não foi a minha opção.

Bom, a minha confiança me fez pedir inicialmente um vinho, a saber, Shaffer, de uvas cabernet sauvignon, de Stag's Leap Wyneries - de Napa. De entrada, vieram dois amuses bouches - o primeiro, um profiterolis recheado de lagosta com camarão... Aliás, no Hawaii, eles gostam de juntar essas duas carnes... Em seguida, veio um lagostim. Confesso que gostei mais do profiterolis...

De prato principal, veio uma lagosta de Big Island, com sua carne da cauda e da pata - estranhamente, as lagostas brasileiras não tem garras e as americanas possuem umas garras enormes com uma deliciosa carne. Junto com essa carne toda, veio uma deliciosa sopa de lagosta - um verdadeiro manjar - com trufas picadinhas por cima. Essa sopa valeu o jantar. Com um sabor bem forte, essa sopa foi servida em uma porção bem pequena.

De sobremesa, pedimos um soufle de baunilha (ver foto) com frutas vermelhas e um licor Grand Marnier de ressuscitar qualquer um.

Como disse, a minha experiência mais que valeu!

4) Chef Mavro
Este restauarante era bem próximo do restaurante do Alan Wong, no downtown. Na minha opinião foi o melhor restaurante que fomos. Adorei. Aliás, se tivesse que escolher apenas um programa gastronômico para se fazer em Oahu, diria que este é o restaurante!

Dentre as maravilhas que comemos no Chef Mavro, lembro da nossa "Amuse Bouche" de Gazpacho com sorvete de parmesão com pedacinhos de presunto "serrano". Logo depois tivemos uma entrada maravilhosa que consistia de um moussoline de queijo com raspas de trufas e ovo pochê - simplesmente, um dos pratos mais gostosos que pude provar esse ano! Depois desse prato, qualquer coisa que viesse seria desnecessária...
Mas veio ainda um peixe sobre um leito de Lomi Lomi - uma especialidade havaiana, que consiste em um creme de salmão picadinho - com ovas em cima. Ainda emocionado com as duas primeiras entradas, me chega um Wagyu Beef com pancetta. Wagyu é aquela raça de boi criada no Japão (vale lebrar, a 5 horas do Hawaii), onde o gado é criado com toda mordomia.
Ainda teve uma mousse de Brie de Meaux servida... nada especial.
De sobremesa, foi servido um "pão", no estilo "Sonho" de nossas padarias, em tamanho bem reduzido, com sorvete de abacaxi com coco. Eu gosto muito das três coisas: sorvete, abacaxi e coco. Pra mim, foi perfeito.

Mesmo que o Havaí não seja tudo aquilo que você imaginou, ele ainda é o Hawaii e isso você não tem como discutir... Há nele mais descobertas do que as que eu fiz e, sem dúvida, muitas belezas espalhadas por Oahu... E uma grata surpresa são a qualidade dos seus ingredientes e diversos excelentes restaurantes. Depois de todos esses restaurantes de frente para o mar, ouvindo aquela musiquinha havaiana mole - o clima lembra muito aquela preguiça baiana, bem contemplativa -, não tenho dúvida de que você vai idealizar um retorno para aquelas ilhotas no meio do nada. E vai agradecer aos deuses havainos por cada momento na ilha.

Mahalo.

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terça-feira, 8 de março de 2011

Napa sem Napa

Amigos e amigas,

Napa Valley é um dos atuais destinos dos enófilos, sobretudo, americanos. Não sei se os enófilos do resto do mundo se atentam com muito entusiasmo pra Napa, mas, depois do sucesso do filme Sideways, é possível que Napa venha atraindo turistas, de um modo geral, mesmo que o filme tenha sido filmado em outra área vinícola da Califórnia - Santa Inez Valley.


Agora, o que há por trás de Napa Valley talvez seja muito mais publicidade do que fato: pra começar os vinhos medianos de Napa não são bons - na minha opinião, é claro. Bom, não sou nenhum grande conaisseur de vinhos, mas garanto que me diverti mais nas vinícolas da Austrália, mais especificamente em Hunter Valley, que por sinal nem é a região mais conceituada de vinhos por lá. Os vinhos ordinários franceses, ou seja, os vinhos do dia a dia, também são melhores, sem dúvida!

Então, qual é o grande barato de Napa? Sinceramente, de novo, a publicidade.

Mas você acha que vale a viagem a Napa? Acho que vale, mas vamos por partes... Antes de entrarmos nos vinhos, vamos falar da região, que é maravilhosa!



Napa Valley contém não apenas a cidade de Napa, mas também diversas outras cidadezinhas bem bonitas: Yountville, Oakville, Ruthford, Santa Helena e Calistoga. A cidade de Napa em si são as fazendas de Napa e Napa Downtown, onde as pessoas moram, se hospedam, cheios de Mc Donalds, Pizza Hut, Burgerkings e até um Premium Outlet. Bom, e aí? E aí vem a minha primeira recomendação: se você quer viajar para um lugar de vinho, com clima de campo, aconchegante e "tudo de bom", recomendo não ficar em Napa Downtown, por ser muito grande e não ter muito desses atrativos.



Como eu sempre penso nos restaurantes, procurei a cidade de Napa Valley que possuía os melhores restaurantes da região. E foi fácil encontrar... The French Laundry, Bouchon, Ad Hoc, Hurley's, Bistro Jeanty, etc. estão todos localizados na cidade de Yountville. E valeu a pena ter feito essa escolha, pois, além da cidade de Yountville ser a cidade com mais estrelas do guia Michellin per capita dos USA, é, sem dúvida nenhuma, a mais bonita de toda a região. Ah, e ela se situa bem no coração de NApa Valley...



Parece uma cidade típica da serra do RJ, mas com um toque todo francês. Não precisa do carro para ir a nenhum restaurante, dá pra conhecer todo o centrinho de Yountville a pé, e à noite a cidade ainda fica mais bonita! Estávamos cercados pelo domínios do Chef super conceituado, Thomas Keller - atrás da nossa pousada, geminada a ela, ficava o Bouchon Bistro, a outra porta era da Bouchon Bakery... Mais 100 metros acima era The French Laundry - restaurante nave mãe, que transformou o Sr. Keller em um dos grandes ícones da culinária mundial.


Falando em The French Laundry, reparei que a cidade funciona meio que no entorno dele. A sua localização fica no final de Yountville e as pousadas que estão a meros 15 passos do restaurante estão todas sem vagas, e geralmente são mais caras e piores do que as demais que estão a apenas 50 metros a mais... A partir das 17 h, quando começa a se servir o jantar por lá, diversas vans com grupos se aproximam do restaurante, que vieram de San Francisco e pretendem voltar ainda no mesmo dia. A verdade é que de San Francisco para Napa se gasta no máximo 1 h e meia. É curioso a romaria que se faz ao The French Laundry, mesmo tendo que reservar com no mínimo 2 meses de antecedência e sendo tão caro... Deve valer a pena!


No tocante às demais cidades, Oakville me pareceu ser mais passagem e tem uma loja de queijos e charcuterie interessante, a Oakville Grocery; Ruthford também parece ser meio passagem, embora possua um ótimo hotel com restaurante lá, o Auberge de Soleil; Santa Helena é bonitinha também, com um bom centrinho de restaurantes (alguns famosos) e lojas - há uma padaria célebre por lá também, a The Model Bakery; e Calistoga me pareceu ser a mais rural que as demais.



E Napa Downtown? Se você gosta mais de downtown, de cidade mesmo, de lugar que tenha Mc Donalds, de Outlets e de Hospital (Queen of the Valley)- isso porque precisei visitar o hospital de Napa Downtown, em uma emergência, às 1:30 h da manhã - então, fique em Napa Downtown... Lógico que eu não conheci tudo, então pode ser que tenha lugares legais por lá que eu não tenha visto.

Mas e os vinhos?

Um amigo meu, Pedro Portugal, enófilo, sócio do restaurante Montagu, no centro do RJ, me deu o mapa dos vinhos. Segundo ele, Domaine Carneros produz um ótimo espumante, a vinícola do Coppola e do Robert Mondavi - pioneiro no renascimento das vinícolas de Napa - também produzem ótimos vinhos... Napa é cortada pelas estradas I-20 e Silverado Trail e, assim, ele me disse: "não deixe de ver as as wineries de Silverado trail... Tem uma subregião que produz os melhores e mais caros vinhos de Napa - Stag's Leap". E uma das últimas dicas que ele me deu foi: "não deixe de ir a Sterling vineyard", que fica localizada em Calistoga. Ressaltou que essa Vineyard valia mais pelo passeio do que pelo próprio vinho... Há nessa Vineyard um passeio pelo terreno, em declive, através de um teleférico...

Infelizmente quase não aproveitamos as dicas do valente Pedro.


Isto porque, no primeiro dia em Napa, resolvemos fazer um passeio guiado pela wineries - seria mais prático, sem riscos de nos perdermos e também de não sermos parados pela blitz da lei seca em plena Califórnia. Arrumamos um tour de vinhos chamado Platypus Tours que cobrava US$ 99,00 para nos levar em até 4 vinícolas. Achei um pouco extenso, pois, na minha opinião, 3 vinícolas no mesmo dia já seriam de bom tamanho. De qualquer forma, a idéia do tour era boa, pois além da comodidade de ser levado em uma van, eu não precisaria reservar nenhuma winery - condição necessária para visitá-las em Napa. Eles ainda serviam água à vontade para ser bebeida na van e diversos pães e queijos! Voilà, ótimo!

Eu e Carol nos juntamos a mais dois casais - não lembro o nome deles, mas um era da nossa idade, de Pittsburgh, e o outro bem mais velho que nós, oriundos de Washington DC. Todos muito simpáticos, conversadores e muito curiosos sobre o Brasil e, em particular, sobre os vinhos do Brasil.


O nosso guia nos levou para quatro vinícolas: Elkhorn Peak Cellars, Bourassa Vineyards, Andretti Winery e Robert Biale Vineyards.

Todas elas tinham duas coisas em comum: cobravam US$ 10,00 pela entrada no taste room - que eram abatidos caso você comprasse algum vinho - e todas elas produziam um vinho bem mais ou menos. Vou comentar rapidinho sobre elas:

- Elkhorn Peak Cellars:

Fomos recebidos pelo proprietário, Ken, e tomamos um vinho branco, um rosé, um pinot noir - que o Ken fez questão de dizer que era premiado - e um de sobremesa. O Pinot Noir era bonzinho... O de sobremesa era o melhor... Mas valeu a ida nesse vinhedo pois foi a melhor apresentação... Aliás, a única feita pelo próprio produtor e lavrador. Ele nos disse com veemência que em Napa não há nenhum glamour de filme, e sim muito trabalho. Deu uma idéia geral sobre a indústria do vinho na região e deu a entender que a vida é bem dura e cheia de riscos - como de qualquer produtor agrícola.


O escritório dele ficava no alto de um platô em que era possível ver a baía de San Pablo, logo à frente da Golden Gate.

- Bourassa Vineyards:



Foi uma apresentação bem animada e foi onde nós almoçamos. Na verdade, eles não eram produtores, e sim comercializadores. Possuem até uma pequena plantação, mas a maioria das uvas deles são compradas de produtores exclusivos. Olha, sempre tenho dúvida sobre vinhos de comercializadores, mas bebemos alguns bons vinhos lá... Aliás, foi nesta winery que na minha opinião tivemos um problema que só foi resolvido no hospital. A nossa anfitriã fez questão de apresentar os vinhos que ainda estavam amadurecendo nas barricas de carvalho... Bebemos o Merlot, o Cabernet Sauvignon e o Petit Verdot...

Depois, a anfitriã resolveu nos dar um blend do corte bordalês - ou seja, a mistura dos três.... O fato é que depois de ter bebido tanto vinho direto da barrica de carvalho, com um gosto bem forte, senti inclusive o sabor de chumbo, percebi logo depois que tinha ficado um pouco pesado... Mas nada de especial. Seguimos em frente!

- Andretti Winery:


Fomos a esta vinícula de propriedade do piloto de fórmula Indy, Mario Andretti. Muito bonita, mas... De todas, a pior. Se for a Napa, não perca o seu tempo com ela.

- Robert Biale Vineyards:

Na minha opinião, foi a melhor! Provamos alguns vinhos e em especial o Black Chicken - a maioria dos vinhos feito à base da uva Zinfadel, mais conhecida como Primitivo. Posso falar pouco sobre os vinhos, pois depois de tanta informação (e de beber tanto vinho, rs) já não consegui capturar alguns detalhes. Mas lembro que a anfitriã apresentou muito bem cada um dos vinhos e era muito solícita. A propriedade e a localização do taste room eram bem legais - justamente quando estávamos lá apareceu o sol e um arco-íris. Muito legal!

Ao voltar pra pousada - saímos 10h e voltamos às 17h - combinamos de descansar uma horinha e depois irmos jantar. Após duas horas relaxando, a Carol começou a se sentir muito mal, enjoada, e tivemos que abandonar a nossa reserva especial para jantar. Às 22h, fui ao mercado comprar sal e açúcar para fazer soro caseiro... Aliás, vale contar: nos USA se tiver uma placa de "STOP", mesmo que não tenha uma alma viva na rua, pare, conte até três e vá! Preocupado em achar um mercado aberto em uma cidade que dorme super cedo, passei por uma placa de STOP a 10 milhas/h = 16 km/h. O guarda local que estava de tocaia me parou e disse que, pelas leis da Califórnia, eu poderia ter atropelado alguém. Só não me deu uma "citation" (multa+comparecimento obrigatório no juizado, não podendo deixar a cidade antes de se defender previamente), pois ficou com pena da situação da Carol. Não apenas me liberou, como me conduziu ao mercado 24h de Yountville.

De volta ao hotel, preparamos o soro mas não adiantou: liguei para o seguro viagem (olha a importância de se ter algum!) e fomos encaminhados, à 1 da manhã do dia seguinte, para um hospital em Napa Downtown - o Queen of the Valley. O médico e as enfermeiras foram super atenciosos e a Carol tomou soro na veia e remédio. Saímos de lá por volta das 3 da manhã. Recomendações médicas: não beber vinho, nem comer comidas gordurosas ou cruas por 48 horas. Infelizmente, terminou por aí as aventuras do Viver Para Comer em Napa Valley.

Pode ter sido um vírus? Pode. Pode ter sido uma leve intoxicação alimentar? Pode também. Mas na minha opinião, os vinhos na barrica de carvalho me pesaram... Eu não passei mal, mas senti um desconforto logo que saímos de lá. Não sei, nem saberei o que de fato ocasionou o mal estar, mas este enjoo e a chuva do dia seguinte atrapalharam alguns planejamentos - principalmente, no tocante à gastronomia da região.

À exceção do mal estar da madrugada, a nossa estadia em Yountville, a nossa pousada/hotel Maison Fleurie e a atenção da nossa hostess deixaram um gostinho de quero mais... E talvez ir no inverno lá seja o momento mais apropriado, pois os hotéis estão mais vazios, os preços mais em conta, o clima está mais convidativo para o vinho e a lareira pode ser ligada! Mas, novamente, se quiser se aventurar por lá, fique em Yountville. É estranho, mas é melhor ir a Napa sem ficar em Napa! Como diz o Ricardo Freire, do Viaje na Viagem, vai por mim, rs.

Beijos e abraços,



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sábado, 5 de março de 2011

San Francisco: Just a Glimpse

Amigos e amigas,

de todas as cidades que eu já conheci nos USA (não foram muitas) a que eu mais simpatizo é San Francisco. Infelizmente nunca fiquei muito tempo e preciso dizer que San Francisco é sobretudo uma cidade de clima bem frio. Mas o que mais me chama atenção é que San Fran é uma cidade com diversos prédios de arquitetura victoriana baixos - talvez herança do terremoto que causou diversas mortes no início do século XX.

Lógico que há um downtown, com prédios altos e tudo mais. Mas não é o marcante. O Marcante são os prédios baixos, o Chinatown (alguém lembra do filme Aventureiros do Bairro Proibido?), as milhares de ladeiras, a ilha de Alcatraz, os bondinhos e a Golden Gate. Ah, para quem gosta de correr, a maratona de San Francisco é uma das mais bonitas e uma das mais difíceis também - correr 42 km entre subidas e descidas não é pra qualquer um não!

Quando fui a primeira vez a San Fran fiquei pensando: " O que há atrás da Golden Gate?". Quando voltei descobri que tinha perdido a chance de ter conhecido as cidades/bairros de Sausalito, Tiburon e Belvedere.

Assim entrou San Fran na jogada: passagem entre as rotas Las Vegas-Napa Valley e Napa Valley-Oahu. Seriam duas piscadelas na cidade, que precisariam ser estudadas para otimizar o tempo.

Chegaríamos com fome para o café da manhã e passaríamos o resto do dia em Sausalito.

Bom, com essas metas, nos encaminhamos para o café, assim que descemos do aeroporto. Acima do bairro do Castro (famoso reduto GLSBT (?) e agora mundialmente famoso pelo filme Milk), há um bairro chamado Cole Valley. Nesta redondeza, há uma loja de queijo famosa pelos seus queijos importados e sua charcuterie: Say Cheese. A loja não é muito grande e os queijos estão dispostos em uma vitrine dentro da loja. Fiquei enlouquecido! Pedimos um sanduíche de gruyère, jamón serrano e tapenade de azeitonas pretas.

Além desse sanduíche, feito com um belo pão de casca crocante, compramos dois pedaços de queijo: um que imitava o brie francês, mas na minha opinião estava mais para o camembert e um pedaço de queijo que imitava o reblochon... Pela legislação americana, os queijos tem que ser pausterizados e assim perdem um pouco do gosto característico. Tanto o tipo brie quanto o tipo reblochon possuíam gostos mais leves que os originais - que são bem fortes.

Para acompanhar estes queijos, pedimos uma baguete da Semifreddi's Bakery - que era a fornecedora de pães da Say Cheese. Vale comentar que San Francisco possui famosas padarias: a Boudin, a Acme Bread e a nova queridinha deles, a Tartine Bakery. Comemos na Boudin - que já passou até programa na Nat Geo sobre a lendária massa-base de fermento, de mais de 100 anos, que fazem todos os pães da casa -, mas posso garantir que o pão deles não vale a fama. Tentamos ir na Tartines, mas a fila era tão grande que desistimos. Mas o Pão da Semifreddi's é demais. Não tem a fama ainda dos demais, mas vai chegar lá....


Não foi dessa vez que consegui ir a Tartine Bakery, já que a fila que havia na porta deles, às 7:30 da manhã de uma sexta feira, era de contrariar qualquer poliana... Ainda mais com o frio que fazia.


Voltando ao pão da Boudin: não tem nada demais. Comi um sanduíche feito em um pão tradicional e... nada. Em uma passagem pelo aeroporto, pedi um clam chowder dentro de um pão deles e garanto que o clam chowder estava delicioso, mas o pão... tava ruim mesmo! Aliás, não apenas eu achei isso, como uma senhora que comia ao meu lado deixou o pão também!

Feitos os comentários sobre queijos e pães, nos restou o almoço para realizarmos. Como dito, havia escolhido como ponto de stop para almoço a cidade de Sausalito, pois não a conhecia. Mas onde comer por lá? Recorri a minha comunidade gastrônomica Chowhound (acho que já falei dela aqui, não?) para tirar essas dúvidas. Me falaram do Poggio, da bela vista do Spinnaker, de alguns outros e... do Fish.

Bom, lembro que alguém havia feito um comentário em algum thread "e o Fish... Sempre nos acompanhando... Adoro!" De todos da lista que haviam me dado, ele era o mais simples e estava bem comentado no guia Michelin. Pensei: "Taí, esse é o que que quero ir". Com um mês de antecedência eu já sabia o que comer lá...

O restaurante fica debruçado sobre a marina de Sausalito, de frente para os barcos. Infelizmente, chegamos num dia muito frio (San Francisco é frio no verão... Nesse inverno, chegou a nevar depois que passamos por lá!) e bem nublado. Assim, entramos direto e fomos atendidos por uma garçonete bem simpática. Fazem-se os pedidos de pé, de frente para a caixa registradora e se espera os pedidos na mesa. Pedi um Fish and Chips, mas troquei a batata pela salada.



Ia pedir um Clam Chowder de entrada, mas achei que as porções lá fossem grandes, e segurei a vontade. Segurei a vontade do Clam Chowder, mas não do Clam Dip: uma espécie de pasta de cream cheese, temperado com cebola, alho e vinho branco e vongôles que podiam ser petiscadas com chips de batatas.



Cara, o restaurante é simples, nada chique, a comida tem aspecto de comida de marinheiro, mas era tudo que eu esperava e... gostei! Realmente tinha o clima que esperava! E o restaurante cobra um preço bem apropriado.

Depois de tanta expectativa por conhecer Sausalito, o Fish. e de dirigir sobre a Golden Gate, percebi que o tempo que havia preparado inconscientemente para isso não passava de míseras 3 horas. Mas com certeza foram bem aproveitadas. Escrevendo toda essa aventura, hoje, não tenho dúvida de que San Francisco passou na minha frente em duas piscadelas. Em uma piscadela, eu vi o Say Cheese e, na outra, o Fish. E se tudo isso não foi um sonho?

Beijos e abraços,


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1) Say Cheese
856 Cole Street, San Francisco, Tel.: (415) 665-5020

2) Fish.
350 Harbor Drive, Sausalito. Tel.: (415) 331-3474

Quem sou eu

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Olá, sou carioca e um grande apreciador de um bom prato. Com este intuito, tentarei escrever as minhas impressões sobre os restaurantes em que eu vier a comer - descrevendo qualidades e defeitos de cada um. Caso tenha o interesse de complementar as minhas opiniões, por favor, não deixe de contribuir. Restaurantes bons devem ser vangloriados, enquanto restaurantes ruins devem ser evitados. Não concorda? Então, vamos lá... Mãos ao garfo!