segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Almoço de Fim de Ano - Taberna do Juca

Prezados amigos e amigas, conforme dito, trago a vocês a resenha prometida sobre a Taberna do Juca. Esta casa fica localizada nos arredores da Lapa, ao lado do Carioca da Gema - casa consagrada pela boemia.

A noite, a Taberna do Juca é um bar disputado e muito conhecido pelas suas deliciosas empadas. Situado em um casarão antigo, que parece ter mais de 150 anos, ele nos remete à idéia de um Rio de Janeiro do século XIX, de um Rio de janeiro de Machado de Assis.



Ao falar do velho Bruxo do Cosme Velho, aproveito para dizer que eu acabei de reler Dom Casmurro (juro que não fui influenciado pelo seriado, que nem cheguei a ver). Quando eu o li primeiramente eu ainda estudava no Cosme Velho. Mas não era bruxo, nem tinha vocação para compreendê-lo. Após ter relido, entendo a importância do Machado de Assis. E, realmente recomendo, a quem não leu, lê-lo. Principalmente Dom Casmurro.




A história todos já conhecem. Mas, como ele traça o enredo é que é muito curioso. As relações que ele faz com Otelo, de Shakespeare, aumentam a trama. Mas, para mim, eu não tenho dúvida e afirmo que não há enigma: a Capitu traiu!

A minha resolução não é apenas devido aos flagras que Bentinho deu em Capitu em conversas com Escobar em sua própria casa. Ou em saber que a Capitu esteve visitando Escobar na casa dele - ainda que ela alegasse que era apenas visita de negócios, que viria orgulhar o seu marido posteriormente.

Também não dou crédito que a traição de Capitu seja baseada na coincidência de Ezequiel, seu filho, ser parecido (jeito de andar, olhos, tudo... até a voz) com o falecido colega de Bentinho.

O cerne principal da minha tese, de que a Capitu realmente traiu Bentinho, se concentra na tese principal de um outro escritor contemporâneo a Machado de Assis: Fiódor Dostoiévsky.



Em um primeiro momento, segundo os relatos de Dom Casmurro, Capitu vem frequentemente chamar a atenção de Bentinho de como o filho tem um jeito de andar parecido com Escobar e como o jeito de olhar também se assemelha - o que parece que ela quer confessar ao longo da trama o próprio pecado.

Depois, quando Bentinho acusa que seu filho na verdade nada mais é do que fruto da traição de Capitu com Escobar, ela discute pouco e ela mesma corrobora que se ele pensa assim, não lhe resta mais nada do que a separação.

Ela não apenas ameaça a separação como lhe é infringido o castigo. Castigo de um crime que ela praticamente confessa... Em um dos relatos chaves do livro, quando seu filho entra no quarto, onde o casal discutia a verdadeira paternidade, Capitu olha para a criança e em seguida para o retrato de Escobar. Ela não só percebe a semelhança como também perde os argumentos sobre a sua fidelidade.

Esse crime (a traição) é seguido de um castigo (o exílio na Suiça) aceito e praticamente auto-aplicado - exatamente como na tese do homem ordinário de Dostoiévsky - principalmente em função da base religiosa da Capitu (preceito básico, "sem a religião o homem faz tudo"). Lembro que Dostoiévsky era mais ou menos 30 anos mais jovem que Machado de Assis. Sabe-se que Machado de Assis lia muito bem francês e como, na época, só existia traduções deste livro em francês, eu estou certo de que Machado bebeu dessa fonte.

Em suma, não existe dúvida ou enigma. Na minha opinião, o único enigma que há é que os acontecimentos descritos por Machado de Assis revelam não apenas o enredo do seu romance, como também retratam o formato dos relacionamentos da sociedade do seu tempo. Quantos casais do século XIX não deviam ter esta dúvida (ou certeza) que Dom Casmurro tem?



Acho que me estendi, e o que era para ser um parágrafo ficou além do que eu tinha pensado. Cortando a Capitu e voltando ao almoço na Taberna do Juca, preciso dizer que fomos lá depois de tentarmos ir a um outro restaurante chamado Mangue Seco. Como este restaurante estava completamente entupido, ficamos andando por toda a rua do Lavradio até chegarmos a Mem de Sá.

Bom, eramos mais de 11. Conseguimos fazer uma mesa bem rápida. A maioria pediu um filet Oswaldo Aranha. De entrada comemos alguma empadinhas. Todas as empadinhas estavam bem gostosas. Entretanto, o Oswaldo Aranha... Tisc Tisc. Horroroso. Considerando que a carne estava razoável, mas que o alho que a acompanha me parecia insuficiente para acompanhar o prato... Considerando que a farofa me parecia queimada... E, por fim, considerando que a batata chips estava enxarcada de óleo...

A única coisa boa do Taberna do Juca me parece ser o preço. Mas com a qualidade servida, eu diria que apenas o preço, pois como o benefício é quase zero, acredito que o custo benefício não é válido.



Bom, acredito que a Taberna do Juca tem que permanecer somente como bar a noite! Que aí sim, é um grande sucesso. Para corroborar o que eu digo, durante o almoço, quem bebeu o chopp preto elogiou bastante.

Uma pena falar de um almoço tão ruim junto com um livro tão bom. Mas, as memórias...

Beijos e abraços.



Avenida Mem de Sá, 65 - Lapa, Rio de Janeiro, RJ (Tel: 2221-9839).

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Forneria São Sebastião



Estive na Forneria São Sebastião no meio de dezembro (2008) e me surpreendi positivamente. Como fica perto de casa, acompanho sua trajetória desde seu início - quando ainda se chamava somente "Forneria" e era do restauranteur Rogério Fasano. Minha procura pela casa restringia-se à apreciação do famoso sanduíche de picanha com queijo, envolto na massa de pizza - hum.... dos deuses!




Contudo, infelizmente, o padrão da casa foi caindo com o tempo... O serviço sempre foi bom, a meu ver, mas a qualidade dos produtos deixou a desejar em alguns momentos.

Muitos bons pratos já pedidos por mim ou meus acompanhantes lá: carpaccio de carne (delicioso), ravioli de mussarela de búfala com molho de tomate, risoto de funghi, sanduíches panini de presunto de Parma, atum, napolitano... enfim, diversos sabores muito gostosos!





Mas, voltando a essa minha última visita a casa, achei que o novo proprietário deu um up no atendimento (também, né, são cobrados 15% pelo serviço) e no cardápio. Ficamos com as sugestões do dia: um ravioli de ricota com espinafre, coberto por queijo Brie e molho de tomate (super!), e lasanha à bolonhesa, com molho de tomates frescos (suculenta!). De entrada, mantivemos o caprichado carpaccio tradicional - que lá vem acompanhado por uma fresca salada verde. De sobremesa, o brownie com sorvete não foi dos melhores, para o meu gosto, pois estava muito amargo - lembrando que há quem goste....






Fico feliz que um restaurante com um ambiente tão gostoso - ele é todo aberto na frente, com pé direito alto e música ambiente de melhor qualidade - e, ainda melhor, perto da minha casa tenha voltado a ser a Forneria de antigamente...




Ah, e, para os cinéfilos, a decoração é uma curtição à parte: diversos posters de diversos filmes italianos (Scola, Rosselini e até Coppola com o seu Il Padrino) decoram as paredes do ambiente.

Recomendo!
Abraços e beijos.


Rua Aníbal de Mendonça, 112 - Ipanema, Rio de Janeiro, RJ (Tel: 2540-8045).

Almoço de Fim de Ano - La Sagrada Família

Amigos e amigas, neste fim de ano, já houve diversos almoços comemorativos. Tantos que eu diria que cada dia de dezembro passa a ser dedicado a alguma comemoração de fim de ano: restaurantes cheios, reservas encerradas e grupos alucinados querendo a todo custo se confratenizar antes que acabe o ano.

Aliás, vale ressaltar que boa idéia foi a invenção do ano, né? O ano, no calendário Gregoriano, nada mais é do que 365 dias consecutivos. Em outras palavras, um ano é composto de muitos dias, mas nada que se perca de alcance, de modo que o fim dele é factivelmente próximo. Se o ano vivido foi bom, ao chegar no seu final, não nos resta outra alternativa que comemorá-lo. Se os acontecimentos durante o ano foram ruins, nada melhor do que esperar o seu fim, renovar as esperanças e "plum"... Num passo de mágica o ano acaba e a possibilidade de uma vida melhor começa a escorrer pela ampulheta do tempo a partir do dia 1 de janeiro do ano subsequente. Fantástico.

Retornando aos almoços de fim de ano, estivemos em alguns restaurantes. Em outros tentamos... Vou destacar dois restaurantes. Para que essa resenha não fique muito grande, falarei primeiramente no almoço de fim de ano no La Sagrada Família. Posteriormente, farei os meus comentários sobre o almoço na Taberna do Juca.

Acredito que eu tenha dito já o quanto eu gosto do La Sagrada Família em algum post anterior. Assim foi mais fácil combinar com o grupo de trabalho para que fossemos lá "fazer um bonito". Chegamos cedo, mais ou menos 5 para meio dia, e conseguimos nos acomodar com facilidade.

Diferentemente das outras vezes que eu fui lá, achei o serviço um pouco confuso, até mesmo diria que alguns garçons estavam impacientes. Os pratos foram pedidos e, antes mesmo de os pratos chegarem, o restaurante já estava lotado com fila de espera. Acredito que o stress de fim de ano para os cozinheiros é maior do que para os graçons... Alguns pratos vieram com uma cara de requentado, outros com cara de ressecados pelo microondas. De fato, o capricho habitual não acompanhou o serviço dessa vez. Prefiro nem citar os pratos pedidos, para não propagandear fatos ruins do dia...



Felizmente, estávamos acompanhados do nosso mestre e conaisseur de vinhos, Heraldo, que premiou a mesa com uma garrafa de um vinho italiano de ótimo custo benefício chamado Sangiovese Rubicone, produzido pela casa Médici Ermete, safra 2004 - vinho produzido de uvas Sangiovese. Este vinho é da região de Emilia na Itália. Emilia é uma região localizada ao noroeste da Itália não muito famosa por vinhos de qualidade. Entretanto, justamente por este fato, é possível encontrar bons vinhos por preços bem em conta... Uma delícia que, esse sim, foi servido na temperatura correta, levemente refrigerado.

Eu não tenho dúvida de que o que salvou o almoço nessa última terça-feira antes do natal foi a escolha deste vinho pelo mestre Heraldo.

Eu só tenho que lhe agradecer: obrigado!

Um beijo e um abraço,

Rua do Rosário, 98 - sobrado, Centro - Rio de Janeiro (Tel. 2252-2240)

domingo, 14 de dezembro de 2008

La Sagrada Família



Terça feira passada combinamos de ir, em mais um desses almoços comemorativos de fim de ano, à Majórica. Infelizmente, o grupo furou! Mas, eu, Gaúcho e o Mottinha continuamos firmes para almoçar em algum bom local. Propus que fôssemos ao La Sagrada Família - um restaurante de propriedade da família do meu amigo Daniel Pinho. A minha proposta foi rapidamente aceita. E, assim, às 12 hs já estavamos a caminho da rua do Rosário.



O La Sagrada Família fica em um casarão antigo, reformado, com dois andares. Na verdade o primeiro salão fica em um segundo andar e é preciso subir até lá através de uma escadinha. Neste primeiro andar possui um bar onde é possível aguardar as pessoas que ainda não chegaram. Nada de muito espaço, o que faz aglomerar muita gente após 12:30, já que o restaurante é muito concorrido.



No tereceiro andar há um salão bem maior, mais comprido e onde a luz solar invade as janelas e aparece com mais clareza. Também possui um bar, mas este atende apenas aos garçons. A decoração à base de posters do Gugehein Museum, de Chagal, Dali, Monet, Van Gogh faz o colorido das paredes juntamente com os diversos pratos da boa lembrança - associação da qual o restaurante faz parte.

Ao sentarmos na mesa o nosso decano, Mottinha, com toda a sua sabedoria nos presentiou com a sugestão de almoçarmos desfrutando de um vinho rosé. Aceitamos sem titubear. Mas, o seu pedido foi realmente supreendente para todos nós, pois o vinho escolhido era de excelente qualidade: Viña Chocalán, Rosé, 2006. Feito à base de uvas Sirah e Petit Verdot, este vinho foi eleito o melhor vinho rosé do Chile em algumas degustações às cegas. Servido gelado, ele foi degustado com muito prazer por todos nós.



Vale ressaltar o savoir-vivre do Mottinha: não apenas gosta de um bom vinho, ou de um bom prato, como também gosta de uma boa resenha - o que é mais importante, na minha opinião, para podermos aproveitarmos, de modo completo, um almoço de excelente qualidade. Como eu costumo falar, com uma resenha frouxa, ou seja com um papo fluido, podemos transladar de um assunto para outro sem nenhum desgaste. E essa resenha frouxa o Mottinha não apenas possui, como exibe, sem nenhum tipo de ostentação ou vaidade. Mottinha, valeu a indicação do Viña de Chocalán, que, sem dúvida nenhuma, foi magnífico.



No tocante à comida, vale comentar que nós três pedimos o mesmo prato: "Gnocchi ripieno", que é na verdade um gnocchi de aipim recheado de ricota e salsinha, e croûtons de peito de frango, aos molhos de queijos e de tomates frescos. Perfeito! No prato, a estética visual é impressionante, pois a metade do prato possui uma coloração vermelha (devido ao tomate) e a outra metade possui uma coloração branca (devido ao molho de queijo). Você começa a saborear este prato com os olhos! O mais importante é que o gnocchi combina perfeitamente com o vinho rosé escolhido!

Em resumo, foi uma grande terça... Um bom restaurante, boas companhias e um bom vinho!

Infelizmente, o La Sagrada Família não é muito próximo do meu trabalho, pois com os seus preços acessíveis e a sua qualidade... Bom, este é o tipo de restaurante em que a gente vai dia sim e no outro dia também.

Um beijo e um abraço.



Rua do Rosário, 98 - sobrado, Centro - Rio de Janeiro (Tel. 2252-2240)

Quem sou eu

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Olá, sou carioca e um grande apreciador de um bom prato. Com este intuito, tentarei escrever as minhas impressões sobre os restaurantes em que eu vier a comer - descrevendo qualidades e defeitos de cada um. Caso tenha o interesse de complementar as minhas opiniões, por favor, não deixe de contribuir. Restaurantes bons devem ser vangloriados, enquanto restaurantes ruins devem ser evitados. Não concorda? Então, vamos lá... Mãos ao garfo!