sexta-feira, 25 de março de 2011

O Hawaii não é aqui!

Amigos e amigas,

o Viver Para Comer chegou em sua aventura em terras havaianas. Aloha! Juro que vou tentar me concentrar apenas nos restaurantes e falar o menos possível sobre as atrações turísticas - até porque isso é um blog gastronômico e não de viagem. rs! Mesmo que eu ache muito difícil alguém ir ao Hawaii para jantar, mais especificamente à ilha de Oahu, fica de registro algumas indicações de sua culinária local...

Olha, a primeira coisa que alguma pessoa que mora no Brasil deve saber sobre o Hawaii é que ele é longe: cerca de 10 horas entre o trecho RJ-Charlotte, mais 5 horas de Charlotte até San Francisco e mais 5 horas de San Francisco até Oahu. Entre esperas de conexões e atrasos, pode adicionar mais tempo e reservar umas 25 horas, no mínimo, para concluir esta viagem. A prova de que o Hawaii é longe: da ilha de Oahu até o Japão gasta-se aproximadamente 5 horas num voo.

Depois dessa epopéia pelos ares, a coisa que você mais vai desejar é ver a ilha de Oahu aparecer na sua pequena e desconfortável janela do avião - você e todos que estiverem no vôo, pois essa aproximação da ilha é maravilhosa.

Oahu é muito grande - é uma ilha, mas em diversos momentos não dá a sensação de se estar em uma ilha! O south shore, lado sul da ilha, é uma grande cidade: tem mercado financeiro, empresas, traders, universidades, restaurantes, shoppings e muitos hotéis. Foi justo no south shore onde ficamos. Nosso hotel ficava de frente para a praia de Waikiki e para a estátua do duque Kamehameha.

O north shore, por sua vez, não tem quase nada: é uma grande fazenda de abacaxi. Aliás, há uma fazenda-empresa, a Dole, que oferece passeios e degustação de abacaxi. É quase um parquinho de diversão, só que com a temática de... abacaxi. rs... O north shore tem as praias famosas: Pipeline, Sunset, a maravilhosa Waimeia Bay entre outras... Mas em termos de hotéis, restaurantes e atrações tem pouca coisa. Ah tá... Tem o centrinho de Haleiwa, com um pequeno comércio e alguns restaurantes.

Sempre tive muita vontade de conhecer o Hawaii e achei que o Hawaii seria realmente uma espécie de paraíso em terra. Confesso que me decepcionei um pouco diante do contraste descrito acima: se o sul da ilha era extremamente "cidade", o norte era uma grande lavoura com uns truculentos e mau encarados "bad boys", circulando feito tubarões pelas praias mais famosas para o surf.


Veja você como são as coisas: anos e anos idealizando o Hawaii como o último paraíso na terra - com alguma infra, já que ele constitui um dos 50 estados norte-americanos. Chego no Hawaii e descubro que o conceito do Hawaii não é aquilo que estava diante de mim na ilha de Oahu!

Gente, não quero decepcionar ninguém, nem dizer que não vale a pena ir ao Hawaii... Não é isso... Até porque a ilha de Oahu é muito bonita. O problema é a expectativa construída e a comparação com a realidade!

Foi no meio dessa decepção com o "fato real" que me apareceu uma Malla... Bom, antes de viajar, na verdade quando comecei a planejar esta viagem, há uns 5/6 meses atrás, a Carol me disse que havia um blog de viagem de uma brasileira especializado no Hawaii... A Lucia Malla. Havia impresso um post dela que se chamava 4 dias em Oahu e lá havia um um mapa da mina: o leste da ilha! O leste da ilha possui praias lindíssimas, mas não tão largado como as do north shore. Havia uma estrutura de hotéis, restaurantes e toda infra, mas, ao mesmo tempo, não tão cheio de gente e, em particular, de japoneses - nada contra, mas devido à proximidade com o Japão, em alguns momentos parece que você está em Tokyo e não em uma ilha no meio do Pacífico! Muitas lojas, pequenos shoppings e nada de lojas de alto luxo (como há em Waikiki)!

Kailua, Lanikai, Waimanalo, Cockroach beach, Makapu etc...Enfim, Hawaii. Mais em direção ao South Shore há Sand Beach - famosa pelos campeonatos de surf. Colada ao South Shore está a linda Diamond Head.


Além de tudo, o lado leste é bem mais perto da cidade, ou seja, do south shore do que o north shore. Cerca de 35 minutos você vai do south até o east. Enquanto que para ir para o north shore você gasta cerca de 1h 30 min. Ou seja, para quem está no north não dá para ir jantar e voltar no south todo dia.

E a comida? Isso é talvez o diferencial do lado sul da ilha. Os melhores restaurantes, incluindo os mais turísticos, estão lá.

O Hawaii é caro. Os restaurantes, hotéis etc. têm um preço mais caro do que se comparado com os USA. Até porque são ilhotas no meio do Pacífico muito longe da costa americana. Mas a comida lá é demais: os ingredientes são fartos - pois a terra vulcânica de lá possui diversos nutrientes para os mais diversos cultivos -, os peixes são fantásticos e a carne, que imagino que venha do mainland (USA), possui cortes de excelente qualidade. Tentarei contar em meu próximo post as minhas aventuras na cozinha do Hawaii. rs


Bom, a comida típica do Hawaii é peixe, frango huli huli, leitão na brasa... Olha, das coisas que eu tive a oportunidade de ver, não se distingue muito da nossa comida não. Há muitos japoneses, chineses, filipinos, tailandeses e vietnamitas morando hoje lá, o que possibilita uma grande diversidade gastronômica pelas ruas de Honolulu. Fomos em um restaurante japonês ótimo, de frente para a estátua do Kamehameha, em Waikiki, chamado Furusato.

Ah, não posso começar a falar dos restaurantes sem antes falar sobre uma cadeia de sanduíches chamada Cheeseburger Restaurants. E falar mal, hein, gente? Embora a localidade seja bem convidativa, de frente para praia, e seja bem decorado, com garçons super figuras, confesso que não gostei muito... Banheiros imundos, mesas bagunçadas e a comida veio a desejar. O lema da casa é que cheeseburgers são mais interessantes do que hamburguers. Okay, concordo. Mas é necessário fazer um bom hamburguer antes de mais nada, não é? Se optar por sanduíches, recomendo evitar tal rede que, além de Oahu, também está presente em outras ilhas do Hawaii e, inclusive, em Las Vegas.


Em relação aos restaurantes, tivemos a oportunidade de ir a uns bons restaurantes. Vou comentar apenas sobre alguns e descreverei suscintamente alguns pratos:


1) Beachhouse at The Moana

Restaurante situado dentro do hotel Moana Surfrider, de fachada branca e imponente. Possui uma locação privilegiada - de frente para a praia de Waikiki. O pôr-do-sol lá é garantido. Fomos em nosso primeiro dia para jantar e apreciarmos o pôr-do-sol. Ficamos na varanda do restaurante, sentindo um ventinho que vinha do mar. Só isso já tinha valido a ida ao restaurante: pôr-do-sol, uma mesa na varanda, bebendo um pina colada e sentindo no rosto a leve brisa do mar.
A comida estava excelente: pedi um New York Strip (contra filet), com creme de espinafre e um purê de batata com parmesão (ver foto). Tudo estava delicioso.

O ponto fraco foi um camundongo que apareceu sem ter sido convidado, no meio da varanda... O maître veio nos explicar que o restaurante é aberto e, assim, impossível de controlar alguns penetras. Nos recolocou em uma mesa mais afastada da varanda, no entanto, a magia já havia sido quebrada... Mesmo com a comida sendo fantástica... Bom, um aviso para todos: há uma infestação de ratos na ilha. Escutei até que estão trazendo, de forma ilegal, cobras para ilha, pois não há predador para os roedores!


2) Alan Wong
Soube desse restaurante após assistir um episódio do "Food Porn", um adendo do No Reservations de Anthony Bourdain. Lembro que tava vendo o programa e vi um Chef havaiano apresentando o seu prato... No mesmo momento em que vi, o objetivo principal do programa começou a fazer efeito: comecei a salivar e a desejar conhecer o tal restaurante.

Confesso que foi bem difícil encontrar o restaurante, pois ficava em um 2 ou 3 andar de um prédio no downtown do Hawaii - local, devo admitir, não muito bonito! Mas o restaurante era bem agradável, com uma galera bonita e um clima bem animado. Bom, encontrar isso no Hawaii não é difícil, mas o diferencial deste restaurante era que não era majoritariamente frequentado por japoneses, nem por idosos - bem comum por todo southshore de Oahu.

Nesse restaurante comemos uma entrada que consistia em um pequeno bolinho de Crab, Shrimp and Lobster (carangueijo, camarão e lagosta). Com algumas gotas de shoyu, os bolinhos ficavam divinos.
Como prato principal, aceitei a sugestão do garçom: filet de pargo com molho de gengibre, green onion, milho e temperos (ver foto). Veio acompanhado um purê de batata gratinado... Muito bom!

3) La Mer
Esse talvez tenha sido o restaurante mais chique que tenhamos ido em toda a viagem. Ele ficava dentro de um hotel também super chique. Tinha uma vista linda, mas chegamos tarde demais para assistirmos o pôr-do-sol... Um casal de amigos me indicou o La Mer dizendo que a comida era boa, que valia a experiência, mas que era caro. Desisti de ir... Bom, depois de um tempo, eles voltaram atrás e falaram que valia muito a pena...
Cheio de dúvidas, resolvemos ir. O restaurante era muito bom. Sim, era realmente caro, mas com ressalvas... A dosagem do caro e do barato, do custo benefício, lógico que é absoluto, comparativo e, por último, subjetivo. Mas a minha estratégia para este ou para qualquer outro restaurante mais caro em que o meu desejo me impulsione a ir, mesmo que tenha que comprometer o resto do funding da viagem, é ouvir as recomendações do chef, perguntar sobre as opções que mais me apetecem e maneirar dentro do range de preços dos pratos oferecidos... Com estas premissas, achei o La Mer excelente e de ótimo custo benefício... E o menu confiance (set menu) é normalmente o que há de mais caro no cardápio do restaurante. Como o nome dele diz: tem que ter muita confiança no chef/restaurante para aceitar pagar o que se cobra pelo menu - esta não foi a minha opção.

Bom, a minha confiança me fez pedir inicialmente um vinho, a saber, Shaffer, de uvas cabernet sauvignon, de Stag's Leap Wyneries - de Napa. De entrada, vieram dois amuses bouches - o primeiro, um profiterolis recheado de lagosta com camarão... Aliás, no Hawaii, eles gostam de juntar essas duas carnes... Em seguida, veio um lagostim. Confesso que gostei mais do profiterolis...

De prato principal, veio uma lagosta de Big Island, com sua carne da cauda e da pata - estranhamente, as lagostas brasileiras não tem garras e as americanas possuem umas garras enormes com uma deliciosa carne. Junto com essa carne toda, veio uma deliciosa sopa de lagosta - um verdadeiro manjar - com trufas picadinhas por cima. Essa sopa valeu o jantar. Com um sabor bem forte, essa sopa foi servida em uma porção bem pequena.

De sobremesa, pedimos um soufle de baunilha (ver foto) com frutas vermelhas e um licor Grand Marnier de ressuscitar qualquer um.

Como disse, a minha experiência mais que valeu!

4) Chef Mavro
Este restauarante era bem próximo do restaurante do Alan Wong, no downtown. Na minha opinião foi o melhor restaurante que fomos. Adorei. Aliás, se tivesse que escolher apenas um programa gastronômico para se fazer em Oahu, diria que este é o restaurante!

Dentre as maravilhas que comemos no Chef Mavro, lembro da nossa "Amuse Bouche" de Gazpacho com sorvete de parmesão com pedacinhos de presunto "serrano". Logo depois tivemos uma entrada maravilhosa que consistia de um moussoline de queijo com raspas de trufas e ovo pochê - simplesmente, um dos pratos mais gostosos que pude provar esse ano! Depois desse prato, qualquer coisa que viesse seria desnecessária...
Mas veio ainda um peixe sobre um leito de Lomi Lomi - uma especialidade havaiana, que consiste em um creme de salmão picadinho - com ovas em cima. Ainda emocionado com as duas primeiras entradas, me chega um Wagyu Beef com pancetta. Wagyu é aquela raça de boi criada no Japão (vale lebrar, a 5 horas do Hawaii), onde o gado é criado com toda mordomia.
Ainda teve uma mousse de Brie de Meaux servida... nada especial.
De sobremesa, foi servido um "pão", no estilo "Sonho" de nossas padarias, em tamanho bem reduzido, com sorvete de abacaxi com coco. Eu gosto muito das três coisas: sorvete, abacaxi e coco. Pra mim, foi perfeito.

Mesmo que o Havaí não seja tudo aquilo que você imaginou, ele ainda é o Hawaii e isso você não tem como discutir... Há nele mais descobertas do que as que eu fiz e, sem dúvida, muitas belezas espalhadas por Oahu... E uma grata surpresa são a qualidade dos seus ingredientes e diversos excelentes restaurantes. Depois de todos esses restaurantes de frente para o mar, ouvindo aquela musiquinha havaiana mole - o clima lembra muito aquela preguiça baiana, bem contemplativa -, não tenho dúvida de que você vai idealizar um retorno para aquelas ilhotas no meio do nada. E vai agradecer aos deuses havainos por cada momento na ilha.

Mahalo.

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Olá, sou carioca e um grande apreciador de um bom prato. Com este intuito, tentarei escrever as minhas impressões sobre os restaurantes em que eu vier a comer - descrevendo qualidades e defeitos de cada um. Caso tenha o interesse de complementar as minhas opiniões, por favor, não deixe de contribuir. Restaurantes bons devem ser vangloriados, enquanto restaurantes ruins devem ser evitados. Não concorda? Então, vamos lá... Mãos ao garfo!