Amigos e amigas,
Há tempos atrás, fui procurar informações sobre vinhos de sobremesa. Achei algumas e comecei a preparar este post. Preciso confessar que sou relativamente novato no mundo dos vinhos e praticamente um analfabeto em relação a vinhos de sobremesa. Mas não é necessário ser um expert para beber e apreciar qualquer bom vinho - seja ele de sobremesa ou não!
Primeiramente acho válido comentar que os vinhos de sobremesa são geralmente servidos com sobremesas ou sozinhos. Diversas uvas servem para a produção destes vinhos doces, assim como existem diversos métodos de produção. Entre as técnicas mais difundidas de produção estão a colheita tardia (os franceses Muscat, feitos da uva de mesmo nome), a passificação (os Passitos da Sicília, Itália, ou os Vin de Paille, franceses), os que sofrem a ação do fungo "Botrytis Cinereae", técnica também conhecida como a pourriture noble (os vinhos Sauternes, de Bordeaux, ou os Tokaj, da Hungria) e através do congelamento (vinhos Eiswein, da Alemanha, também conhecidos como "vinhos do gelo").
Vale comentar que como as pessoas não costumam consumi-los em grandes quantidades, os vinhos de sobremesa são intensamente comercializados em garrafas de menor tamanho.
Há ainda o vinhos fortificados, também doces, tais como o espanhol Jerez (ou Xerez, ou mesmo Sherry em inglês), Porto (de Portugal) e o Vin Doux Naturel (muito comum na região de Languedoc-Roussillon, França).
Bom, feita a introdução, posso relatar a minha experiência mais marcante com os vinhos de sobremesa. Aconteceu no Eleven Madison Park, em NYC, cerca de um ano atrás. Após o jantar, a sommelier veio me perguntar se aceitava um vinho para acompanhar a minha sobremesa. Como disse a ela que não conhecia muitos vinhos de sobremesa, ela me sugeriu que eu escolhesse a opção "rainbow wine", que consistia em beber 3 vinhos diferentes, ao invés de beber apenas um. Lógico que os três vinhos seriam servidos em copos menores, de modo que a quantidade total dos três seria equivalente a uma taça normal, no caso de pedir apenas um vinho.
Entre os vinhos que constava na opção "rainbow wine" se encontrava o lendário Sauternes produzido pela "maison" Château d'Yquem (1995), o único Premier Cru Supérieur, na antiga classificação de Bordeaux de 1855. Uma relíquia que, devido aos preços bizarros, sabia que seria impossível bebê-lo no Brasil. Ou seja: era a minha grande chance!
Os demais vinhos doces, confesso que não conhecia: Domaine Berthet-Bondet, 2002 (Vin da Paille) e Nigl 2007 (Eiswein).
O mais interessante é que os três são produzidos através de métodos diferentes. O Vin de Paille, produzido pelo Domaine Berthet-Bondet, no vilarejo de Jura, na França, é feito através do método da passificação: as uvas (Chardonnay, Poulsard e Savagnin) são dispostas sobre uma bancada onde são desidratadas lentamente por cerca de três meses - igual ao método de fabricação de passas. Ao perderem água, as uvas ficam concentradas de açúcar. Depois da desidratação, o vinho é produzido e repousa por três anos em barris. Como resultado final, obtém-se um vinho doce encorpado, cheio de sabor, com um teor alcoólico de quase 15%. Pode ser guardado por até 20 anos.
Diferentemente, o vinho Nigl (produzido pela casa Nigl) é um legítimo Eiswein, ou seja, um vinho produzido pelo congelamento da uva. Após retirar a água congelada das uvas, permanece apenas o mosto concentrado de açúcares. O detalhe é que este vinho é austríaco, mais precisamente da região de Kremstal, e utiliza uvas Grüner Veltliner. É, sem dúvida nenhuma, um vinho mais leve que o Vin de Paille e mais fácil de gostar!
No entanto a estrela da noite era o Sauternes produzido pelo Château d'Yquem. Estrela mesmo, pois ele é citado em livros do Dostoiévsky (Demônios), em filmes de hollywood (Identidade Bourne) e muito mais. Atualmente, o grupo LVMH, que é sinônimo de luxo e proprietário da marca Louis Vuitton, comprou o controle do Château d'Yquem. O padrão de qualidade é tão alto que em certo ano, a safra não foi adequada e o Château resolveu não vender nenhuma gota de vinho.
Como todos os Sauternes, o Château d'Yquem é produzido pelo ataque do fungo Botrytis Cinerea. Este penetra na uva e a desidrata lentamente. Uma curiosidade: não é possível estimular nem evitar o ataque desse fungo, sendo portanto um presente da natureza para os vinicultores. Este método de produção produz vinhos classificados entre os mais raros e deliciosos do mundo, podendo inclusive ser guardados por mais de 100 anos.
Resta dizer que as 80% de uvas Sémillon juntamente com as 20% de uvas Sauvignon Blanc, sob a ação do Botrytis Cinerea é uma delícia. É uma pena bebê-lo em companhia de algum outro vinho... Chega a ser covardia com os demais concorrentes... Sem dúvida, o mito é real!
É... Infelizmente, Château d'Yquem é "imbebível" no Brasil. Me resta apenas sonhar com aquele líquido dourado. Ou melhor, com aquela noite inesquecível!
Beijos e abraços,
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@viverparacomer
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Quem sou eu
- Henrique Cesar Tupper
- Olá, sou carioca e um grande apreciador de um bom prato. Com este intuito, tentarei escrever as minhas impressões sobre os restaurantes em que eu vier a comer - descrevendo qualidades e defeitos de cada um. Caso tenha o interesse de complementar as minhas opiniões, por favor, não deixe de contribuir. Restaurantes bons devem ser vangloriados, enquanto restaurantes ruins devem ser evitados. Não concorda? Então, vamos lá... Mãos ao garfo!
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