Amigos e amigas, venho aqui em mais uma resenha. Acredito que esta resenha seja mais complicada que as demais, pois o natal geralmente traz uma carga emocional muito grande. Pricipalmente, quando a família é pequena, como a minha, e não se tem aquele grupo enorme reunido em torno de uma mesa - exatamente como os filmes passam a idéia do que é se ter um verdadeiro natal.
Acredito que justamente por isso que a minha família, há anos, celebra o natal em hotéis, o que possui, ao meu ver, duas grandes vantagens: 1) com um buffet farto é possível comer de tudo sem haver desperdício, em comparação a organizar uma ceia em sua própria casa; 2) compartilhando o buffet com diversas outras famílias, é possível ter a sensação de confraternização com o próximo, que eu imagino que seja uma das idéias chaves do natal católico.
Assim, esse ano, resolvemos passar o natal no Copacabana Palace. E eu trago um relato a vocês, que eu diria ser, no mínimo, surpreendente! Sim, pois o que esperar do restaurante do hotel mais bonito, mais estiloso e que hospeda os estrangeiros mais famosos da atualidade? E o que esperar então da ceia de natal desse hotel, que possui uma arquitetura art-decó, contruído nas mesmas bases do famoso hotel Negresco, de Cannes?
Nada menos do que sensacional, correto?
Errado.
É surpreendente ver como que uma organização é fundamental no quesito restaurateur! Desde as simples coisas, como organização, serviço e até como dispor o buffet: se não possuir organização, pulso firme de uma gerência administrativa, não há santo que faça milagres.
E o show de horror começou já na recepção dada pela hostess: parecia irritada, ou mesmo perdida com mais uma família que chegava para ceiar. Depois de alguns minutos soltos na entrada da pérgula, a hostess nos acomodou em uma mesa próxima à piscina, mas dentro do salão, onde era servido o buffet.
Nos foi servido muito prontamente um espumante, que na minha opinião era de ótima qualidade. Aliás, todos na mesa que o beberam elogiaram bastante. O espumante servido foi da casa Chandon Brasil, chamado Chandon Excellence, Cuvée Prestige.
No entanto, acredito que os pontos positivos pararam por aí.
O serviço também era pecário. Os garçons dificilmente paravam para servir uma taça a mais de espumante ou oferecer água ou outras bebidas. Mesmo minha irmã conhecendo o maître do Cipriane - o verdadeiro restaurante do Copacabana Palace - a equipe que apoiou a ceia servida na pérgula estava totalmente enlouquecida sem comando e ao mesmo tempo destreinada.
É impressionante como o serviço dos restaurantes do Rio de Janeiro, de um modo geral, são inferiores aos de São Paulo. Não que não haja bons serviços no Rio. Mas, o que me parece ser a grande problemática é a falta de constância na qualidade do serviço. Semana passada postei aqui sobre a volta da qualidade da Forneria São Sebastião. Fomos novamente lá e o serviço já não foi com a mesma qualidade, com pratos demorando mais de trinta minutos para serem servidos e ainda por cima com a comida vindo fria. Comentei sobre a qualidade excelente da La Sagrada Famíia primeiramente e, em um post seguinte, da dificuldade que foi comer lá... Acho que o serviço dos restaurantes cariocas tem muito que aprender ainda.
Vontando ao buffet da ceia, posso dizer que o buffet possuia muitas boas opções. E, também possuía pratos com um grande potencial. Porém, tais pratos eram colocados no rechaud já frios e mal dispostos. A própria organização do buffet parecia confusa: os pães e queijos se localizavam no extremo oposto do início da entrada, junto com as sobremesas. Nesta disposição era possível que muitas pessoas só vissem que havia pães na hora de desfrutar a sobremesa.
Em um canto distante da mesa principal do buffet havia uma mesa onde eram servidos camarões e frutos do mar. Lulas e camarões à milanesa totalmente frios. Uma cascata de camarões que, se estivessem só frios, estariam ótimos. Mas, infelizmente os camarões haviam sido bem passados, o que dava um aspecto "borrachudo" à iguaria.
Vale fazer um comentário negativo sobre o casal de músicos que foi contratado para animar o ambiente. O senhor que tocava saxofone cantava bem, embora não soubesse tocar diversas músicas de Frank Sinatra - o que é um pecado gravíssimo nesses momentos. No entanto, a cantora parecia ser muito amadora, pois desafinava muito. O salão se esvaziou rapidamente, desanimando cedo a noite de natal. Apenas dois casais ousaram levantar para dançar. Era melhor não ter contratado músicos, ou então que tivesse sido contratado apenas músicos que tocassem músicas instrumentais.
Em resumo, tudo que uma pesssoa deseja como ceia de Natal tinha no buffet. Entretanto, servido com uma péssima qualidade. O que me deixa triste é pensar como que um hotel tão bonito, com aquela piscina tão bonita à noite, pode oferecer uma ceia de natal tão aquém de suas possibilidades... É uma pena.
Acredito que o ponto forte da noite de Natal foi o relato da minha mãe quanto a sua infância, que vale lembrá-lo novamente, antes de me despedir: minha mãe, filha de militar, se mudou quando tinha 8 anos com o meu avô para Cuiabá (capital do Mato Grosso). Na época, ele era coronel e foi nomeado comandante do quartel da região Centro-Oeste. Como um dos privilégios que a profissão militar possuía era habitação funcional e empregados. Isso mesmo, empregados e não empregadas dedicados a trabalhos do lar. É fácil entender o porquê de empregados homens - não havia mulheres trabalhando para o exército em 1943.
Assim, o meu avô acabou designando um soldado raso para cuidar da minha mãe... Como babá mesmo!
No início acredito que minha mãe acabou dando trabalho ao seu "au pair", pois sem dúvida nenhuma ela devia ser levada. Mas, após algum tempo, a amizade dela pelo babá foi sendo estabelecida.
Quando minha mãe descobriu que o seu au pair não sabia ler nem escrever passou a ter uma nova brincadeira preferida! Toda vez que ela voltava para casa, após as suas aulas no colégio da cidade, ela resolvia ensinar a lição para o seu babá. Ela não apenas estudava a matéria e fazia os seus deveres de casa, como também fazia com que o soldado raso entendesse a lição. Ela passou a dar deveres de casa para ele. E isso se sucedeu por mais de um ano.
O resultado é que o soldado aprendeu a ler e passou a ter uma afeição eterna pela criança que ele cuidava. Afeição que foi notada pela minha vó, ao buscar a minha mãe na porta do colégio... Minutos após alguma briga em que minha mãe havia participado, a mãe da menina opositora, com a qual ela brigou, foi chamar a atenção dela: "Você não pode fazer isso, não pode bater na minha filha". Exatamente nesse momento, o soldado chegou e viu a cena. Como em um fotograma de um filme de Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso), o soldado se dispôs a discutir com a mãe da menina opositora. Nesse instante a minha avó chegou e presenciou toda o acontecimento.
Mais tarde, em casa, minha avó relatou ao meu avô que o soldado esbravejou e disse para a mãe da menina, na porta do colégio e na frente das outras mães, que "se a menina havia agredido a filha dela, era porque a filha dela havia agredido primeiro a menina (...) e, ainda por cima, ele mandou que ela educasse melhor a filha dela."
Seis meses depois, o meu avô foi transferido de volta para o Rio de Janeiro, onde se tornaria general. No entanto, o soldado babá permaneceu em Cuiabá e foi se despedir de toda a família na estação do trem. Se despediu com firmeza do seu coronel e, com devoção, da esposa do coronel. Mas, da filha... Ao tocar na mão da menina que ele havia cuidado, da menina que havia lhe ensinado a ler, a escrever e a fazer poesia.... A emoção foi maior que dureza da farda de soldado que ele vestia. A represa não se conteve e rachou integralmente após o escorrer da primeira lágrima. Chorou intensamente até o último aceno da menina, para ele, dentro do trem...
15 anos se passaram e quando a minha mãe fez seus 27 anos ela soube as últimas notícias do seu antigo soldado babá de Cuiabá: ele havia casado e tinha duas filhas. Graças ao fato de ter aprendido a ler e a escrever, ele havia ascendido na carreira militar e assim chegou ao posto máximo que lhe era possível, o posto de sargento. A sua filha mais velha se chamava Maria Clara, em homenagem a minha mãe.
Um beijo e um abraço
Copacabana Palace, Avenida Atlântica 1702 - Copacabana, Rio de Janeiro (Tel. 2548 7070)
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Quem sou eu
- Henrique Cesar Tupper
- Olá, sou carioca e um grande apreciador de um bom prato. Com este intuito, tentarei escrever as minhas impressões sobre os restaurantes em que eu vier a comer - descrevendo qualidades e defeitos de cada um. Caso tenha o interesse de complementar as minhas opiniões, por favor, não deixe de contribuir. Restaurantes bons devem ser vangloriados, enquanto restaurantes ruins devem ser evitados. Não concorda? Então, vamos lá... Mãos ao garfo!
2 comentários:
Pois é henrique, tem toda a razão quando diz que os nomes iguais pode gerar alguma confusão para os nossos leitores. Uma vez que o meu blog é mais recente, tentarei dar uma volta ao nome nem que seja ao titulo do blog.
Gostei muito deste post, principalmente a maneira como conta a história da sua mãe.
Olá Henrique!
Que grata surpresa ler o seu blog...
Assim como a sua família, a minha também é pequena e gosta de aproveitar a noite de natal em um bom hotel.
Bom saber o que esperar do Copacabana Palace.
Já passei natal no Marriott e o serviço foi excelente!!!! Isso conta muito na noite de natal.
Um grande abraço,
Bhawan
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